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"Isolamento pode prejudicar desenvolvimento da fala", alerta fonoaudióloga infantil


Para alguns sobra tempo, mas, para outros, as tarefas ficaram ainda mais acumuladas. Muitos pais estão trabalhando em home office, fazendo as atividades domésticas e ainda cuidando dos filhos em tempo integral, já que as escolas estão fechadas. No entanto, a fonoaudióloga Juliana Trentini, que é palestrante, criadora do canal Fala Fono e autora do livro Aprendendo a Falar, faz um importante alerta para quem tem crianças pequenas, principalmente no período de desenvolvimento da fala. "A aquisição da linguagem tem um impacto muito grande no desenvolvimento do bebê, tanto social quanto cognitivo.


O desenvolvimento da linguagem se apoia no desenvolvimento sensorial para se desenrolar e o desenvolvimento cognitivo se apoia na linguagem. Trocando em miúdos, sem uma boa base sensorial, a linguagem fica prejudicada, e sem a linguagem a inteligência fica prejudicada", explica.


Segundo a especialista, o gráfico (abaixo) mostra o número de conexões neurais — também chamadas de sinapses — formadas em cada uma das áreas do desenvolvimento ao longo do tempo. "Em azul está o processamento sensorial, em cinza está a linguagem e em roxo estão as funções cognitivas superiores. A faixa de tempo destacada em azul-claro se refere ao primeiro ano de vida da criança. Agora, imagine o período de isolamento social, 3 ou 4 meses na vida de uma criança de um ou dois anos é muita coisa. Sem rede de apoio, sem familiares, sem escola, sem comunidade, como podemos prover da melhor maneira possível condições para que nossos bebês sigam se desenvolvendo?", provocou.



O alerta é importante, mas a ideia não é sobrecarregar ainda mais os pais com atividades e preocupações. "A sugestão é para que eles aproveitem o tempo que que estão realizando afazeres diários e cuidando dos bebês para estimular a fala e a linguagem. Assim, eles não ficam ainda mais estressados nesse momento", diz. Confira, abaixo, algumas dicas da especialista.


NÃO TRANSFIRA O ESTRESSE

Juliana orienta que os pais ou responsáveis, na medida do possível, evitem transferir o estresse para as crianças. "O excesso de estresse causa um aceleramento nos processos neurológicos de maturação. A lógica disso vem do fato de que para melhor garantir a sobrevivência da espécie em tempos de estresse, os indivíduos precisam procriar-se o quanto antes e, para isso, precisam amadurecer o quanto antes", explicou. "Não assistir aos noticiários com a criança e não discutir problemas de adultos na frente dela são alguns exemplos", conclui.


BRINQUE SEMPRE QUE PUDER

Para garantir estímulos sensoriais e de linguagem, o melhor cenário é a brincadeira e a interação. "Como a agenda dos pais está mais apertada sem a escola e com o home office, brincar e interagir com as crianças durante as atividades domésticas é uma boa pedida. Ao cozinhar, por exemplo, deixe a criança observar e tocar nos ingredientes para conhecer as texturas, sabores, cores e cheiros", sugere. "Eu costumo colocar as cascas dos ovos numa bacia e deixo meus filhos apertarem com as mãos. Você pode fazer o mesmo com as cascas dos legumes. É um ótimo estímulo sensorial", completa.


ESTIMULE A VISÃO E A AUDIÇÃO

A pandemia exige que as pessoas fiquem dentro de casa, então, uma sugestão é abrir as janelas e deixar as luzes e os sons entrarem. "Isso enriquece o processamento visual e auditivo, ou seja, sensorial. Chamar a atenção do seu filho para um carro ou um avião que passam distantes ajuda o bebê a destacar um som e uma imagem de um fundo auditivo ou visual. Conversar, cantar e entreter o seu pequeno enquanto você toma banho ou varre a casa também são estímulos da linguagem e de processamento auditivos. Estimulando as crianças sempre que possível, podemos ser a ponte para elas satisfazerem suas necessidades sensoriais, linguísticas e sociais. Assim todo mundo sai ganhando", finaliza.





Fonte: SABRINA ONGARATTO

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